ARTE & LEILÕES

Dezembro 2007

DOSSIER PORTO

PORTO EM PERSPECTIVA

“A cena Artística da cidade do Porto, com especial incidência no domínio da arte contemporânea, há muito que se destacou como uma das mais interessantes, dinâmicas e multifacetadas no panorama nacional. (…) Na tentativa de descortinar as suas especificidades, bem como a origem das motivações dos seus principais actores e alguns dos desafios futuros, lançámos duas questões a alguns dos seus intervenientes: Alberto Carneiro (artista), Isabel Ribeiro (artista responsável por espaço alternativo), Manuel Santos Maia (artista), Fernando Santos (Galeria Fernando Santos), Nuno Pereira (Galeria Plumba) e Mário Altavilla Canijo (coleccionador). (…)”

A & L - Que opinião tem sobre o actual panorama artístico da cidade (no domínio da arte contemporânea)?

MANUEL SANTOS MAIA - Parafraseando o poeta e pintor Álvaro Lapa, num artigo do jornal Público, nos anos 90, respondo à questão, com a resposta que deu título ao artigo: “O artista sente-se mal”.

O artista sente-se mal num país que menospreza a cultura, “que não conhece que alma tem / nem o que está mal nem o que é bem” onde “tudo é incerto e derradeiro / tudo é disperso, nada é inteiro.”, sente-se mal numa cidade (des)governada que segue o país no que respeita à ausência de uma politica cultural e destrói o pouco que foi edificado num passado recente como por exemplo o Porto 2001, Capital Europeia da Cultura. Este é apenas um dos exemplos que comprova haver público para a arte contemporânea, um público que é merecedor de uma programação com qualidade e exige uma efectiva política cultural. Depois de 2001, a nível cultural, o Porto distanciou-se do arquétipo de uma cidade europeia. Relativamente à arte contemporânea, com a eliminação de espaços expositivos como o do Teatro Campo Alegre ou a anulação da Galeria do Palácio, há a contabilizar apenas a programação trimestral do Museu de Arte Contemporânea da Fundação de Serralves, as três exposições anuais da Culturgest Porto, as programações das diversas galerias, (algumas das quais, passaram a apresentar uma programação secundária na galeria do Porto, com a abertura de espaços em Lisboa,) e a intensa actividade de mais de vinte e cinco artistas que, desde 1999, têm apresentado com regularidade, em diversas exposições, mostras e eventos o seu trabalho e o trabalho de mais de uma centena e meia de criadores. Poderemos ver pela acção destes artistas, uma necessidade de colmatar falhas, de contrariar e inverter a situação cultural da cidade, contribuindo com a criação de uma programação alternativa e complementar ao circuito artístico comercial e institucional e salientando a ausência de uma politica cultural.

Enquanto dinamizadores de espaços, de exposições, de projectos de intervenção artística, de eventos (1); artistas como: Paulo Mendes, Rita Castro Neves, João Sousa Cardoso, Eduardo Matos, Mafalda Santos, Susana Chiocca, Isabel Ribeiro, Inês Moreira, Carla Filipe, Renato Ferrão, André Sousa, Miguel Carneiro, Marco Mendes, Aida Castro, Nuno Ramalho, Isabel Carvalho, António Lago, Jonathan Saldanha, Carla Cruz, Pedro Nora, João Marrucho, Catarina Felgueiras, Maria Mir, Alexandre Costa, entre outros, afirmam a autonomia do artista enquanto criador e enquanto responsável pela exibição da sua obra (artistas-comissários ou organizadores), propondo formas alternativas de apresentar publicamente o seu trabalho, de agir no campo da arte e intervir no panorama artístico.

A & L - O que poderá mudar no futuro?

MANUEL SANTOS MAIA - Se os senhores do poder mudarem, se existir uma política cultural, se os responsáveis pelos espaços expositivos institucionais forem competentes, sérios, empenhados e tiverem força e vontade suficiente para resistir a tudo o que os desvie dos objectivos das suas funções e responsabilidades, se os diversos agentes do sistema artístico realizarem um bom trabalho, se tivermos como referência a experiência do Porto 2001, de Serralves e dos muitos dos artistas-comissários, anteriormente citados, entre os quais destaco o artista-comissário Paulo Mendes; certamente poderemos contar com um melhor panorama artístico, teremos melhores criadores, agentes artísticos mais (in)formados e competentes, públicos mais exigentes e, num futuro, o Porto poderá ambicionar ser uma capital cultural europeia. No o futuro, muito poderá mudar. Mas hoje, (porque quem tem a responsabilidade e o dever de fazer, não o fez e não faz), ainda, há muito por fazer. Como pessoa clamou: “É a Hora!”

Por motivos que desconheço esta nota não consta no artigo “PORTO EM PERSPECTIVA”, que faz parte do DOSSIER PORTO.

Porque o tempo é propício a abstracções e impressões que favorecem verdades parciais e têm como consequência o desconhecimento desta realidade, aqui fica, com esta nota, a figuração do que foi anteriormente exposto.

(1) Espaços como: “W.C. CONTAINER”, “IN. TRANSIT”, “PÊSSEGOpráSEMANA”, “Apêndice”, “a Sala”, “Salão Olímpico”, “Mad Woman in the Attic”, “Caldeira 213”, “Artemosferas”, “Senhorio”, “Maus Hábitos”, “Ateliers Mentol”, “Projecto fig. - Nova Delux”, “umdiapositivopravôce”, “Wasser-Bassin”, “Oficina 201”, “Matéria Prima – Print Project Wall”, “555”, “CLAP (Clube de Arte do Porto)”, “JUP”,Labirinto” entre outros.

Eventos como: brrr - Festival de Live Art”, Arritmia As inibições e os prolongamentos do Humano” realizado no Mercado Ferreira Borges, o circuito de exposições por ateliers de artistas “Pontos+de+contacto I, II, III”, “Quartel - Arte Revolução e Trabalho”,”Apagão”, “Imperial”, “Francesinhas Mentiras e Vídeo”, as mostras de performances “Situações Performativas” e o “Dia E Vento”, a mostra de desenhosa dizer...”, a mostra de livros de artistapag. 133”.

Colectivos como: “Sociedade Anónima”, “Cegonha”, “ZOINA”, “A Mula”, “La Balancette”, “alíngua”, “Balla Prop”, “Calhau”, Xoxota Bombista, Parracha Terrorista, entre outros.

Projectos artísticos como “Projecto inter+disciplinar+idades”, “projecto XXS”, projecto interdisciplinar “Pattern”, INTERNATIONALE KUNSTHALLE”, entre outros

exposições realizadas fora do Porto como “penso voltar” no Centro Cultural Emmerico Nunes, em Sines, “Primeiro Fim” realizada na Galeria Museu Nogueira da Silva, em Braga, “I like it hear can i stay?”, na Zé dos Bois, em Lisboa, “That will bring us together”, no Paço da Cultura, na Guarda, “Tivesse ainda tempo”, na Galeria Municipal de Fitares, em Sintra, “ancoragem”, na Galeria Glória Vaz , em Felgueiras, “a Sul....” nas Galerias Arco e Trem, em Faro e na Galeria Spatium, em Tavira, “ambiguiza-SE”, na Casa da Cultura em Elvas, “Imersão Parcial”, no Convento das Dominicas, em Guimarães, “representa; acção!”, na Galeria Casa dos Crivos, em Braga, entre outras.