Manuel Santos Maia

non: reflexão sobre alguns conflitos identitários

por: David Santos

Arqa _edição 84/85 – Setembro Outubro 2010

No final da última década, o filósofo José Gil identificou em Portugal um "medo de existir" letárgico que nos prende ainda ao vazio e à normalização social. Os problemas com a memória e o passado político, bem como com o sentido de pertença a um colectivo ligam os portugueses a uma conflituosa indiferença perante a imagem do seu próprio país. Ao partir de uma reflexão sobre estes valores e características, Manuel Santos Maia tem vindo a apresentar, em vários espaços expositivos, distintas fases do seu mais recente projecto artístico, genericamente intitulado "non" (2003-2010)1. Elaborando uma íntima relação com alguns dos elementos que forjam a identidade do nosso país, Santos Maia recorre a uma estratégia de fragmentação disciplinar, ao acentuar de novo uma das suas principais características processuais: a biografia museificada. Na realidade, desde o projecto "alheava", iniciado no final da década passada, que o artista cruza a noção de documento com a experiência individual e familiar, para alcançar finalmente uma espécie de "memorabilia" colectiva, enquanto espelho antropológico que nos liga a todos pelo filtro de uma "intimidade documentada". Fotografias, filmes, álbuns familiares, gravuras intervencionadas e outros inesperados objectos readymade são alguns dos materiais utilizados por Manuel Santos Maia nesta instalação, através da qual reflecte em torno de questões como a guerra, a descolonização e a imagética popular ou a estética portuguesa entendida como expressão de uma "identidade nacional" ambígua, marcada, cada vez mais, por uma precária estabilidade, resultado dos efeitos de influência cultural alimentados pelos fluxos da emigração portuguesa recente e a reciprocidade paralela, mas determinante na sua influência crescente, trazida pela imigração global que se fixa em território português.

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