Where are you from?/De onde vens? Arte Contemporânea de Portugal
Artigo sobre a exposição
Pedro dos Reis
Inaugurada no passado dia 1 de Fevereiro na Faulconer Gallery, em Grinnell, Iowa, a exposição juntou 21 artistas portugueses que procuraram responder, com o seu trabalho, à pergunta “Where are you from?/De onde vens?”. A variedade de trabalhos e artistas – uns já conhecidos do público e outros algo esquecidos ou mesmo desconhecidos criou uma selecção improvável, visto que dificilmente seriam reunidos numa exposição, em qualquer outro lugar do mundo. Este aspecto torna esta exposição inédita e curiosa, sendo merecedora de atenção. A explicação para a concepção da exposição justifica-se após uma bolsa Fullbright, onde uma das mentoras do projecto e também artista, Jane Gilmor, passou uma temporada em Évora a partilhar a sua experiência artística na fábrica Leões pertencente à Universidade de Évora. O contacto que esta artista teve com artistas portugueses motivou-a a falar com Lesley Wright, da Faulconer Gallery para que se fizesse uma exposição reunindo artistas do nosso país, no Iowa (um estado norte-americano aproximadamente uma vez e meia maior que o Indiana). A Faulconer Gallery tem vindo a desenvolver um programa com artistas internacionais desde 1999 e a escolha de artistas portugueses apareceu como mais uma oferta, que a galeria poderia apresentar ao seu público.
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Manuel Santos Maia, por outro lado, relembra o recente passado colonial português, mas agora visto a uma distância temporal, num período pós-colonial. A voz do seu pai, vindo de Moçambique depois de 25 de Abril de 1974, junta-se a um conjunto de imagens de época também filmadas pelo mesmo, ou familiares seus, que se vai desenrolando por uma visita a memórias e expectativas perdidas e as razões que o levaram a voltar a Portugal, de onde o avô do artista partira décadas antes. “Alheava” é um vídeo forte, filmado em várias sessões, como parece sugerido pelo discurso do pai do artista – umas vezes voltando a lugares onde já estivera; outras vezes desenterrando outras lembranças do passado, que parece ter querido esquecer com o tempo. O vídeo apresenta assim, uma carga emocional criada pela voz que vai falando (e algumas vezes até mesmo justificando as suas opções) na primeira pessoa; ao mesmo tempo torna-se num importante documento sobre a própria guerra colonial e o momento de transição de poder, que aconteceu em Moçambique, na altura em que lá viveu. Este artista apresenta ainda, em adição às vídeo-memórias, um arquivo de filmes Kodachrome 8 mm de onde foram extraídas as imagens (e com notas pessoais do seu pai, imagina-se); assim como a câmara e o projector utilizados. Este “arquivo” protegido por uma vitrina torna-se assim uma testemunha viva da história relatada assistindo silenciosamente, com o visitante, às imagens que ajudou a gerar.
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Complementarmente a esta exposição foram criadas outras três: em Cedar Falls, na University of North Iowa (UNI), com o título “New Polyphonies: Contemporary Art From Portugal”; e outras duas com o título “On the edge – in the middle, parts I and II”, em Cedar Rapids; para além de um debate e conversas com alguns dos artistas participantes na exposição que se deslocaram ao Iowa (entre os quais, Nuno Pedrosa, José Carlos Teixeira e Marta de Menezes). Estas actividades foram ainda complementadas por acções junto de um público mais jovem, através de serviços educativos. Da exposição resultou também um catálogo, com declarações pessoais de cada artista e com textos das comissárias e ainda de Miguel von Hafe Perez, que pela improbabilidade de uma eventual nova reunião destes artistas, será com certeza um objecto de colecção.