Projecção de alheava _ filme na Sala Bebé Sessões dia 3, às 22h e 22h45
Curadoria de Margarida Mendes inseridas no ciclo 7 DAYS PROJECT
Espaço Avenida, Sala Bébé, Rua Rosa Araújo, nº19 (entrada junto à Av. da Liberdade) Preço: Grátis

O vídeo alheava _ filme foi apresentado pela primeira vez em Iowa, nos EUA, em 2008 e foi Premiado no FIAV.08 (Festival d'Images Artistiques Video, 8ème édition), na Argélia, com o Prix Ibn Batuta.

alheava_filme 2006 – 2007 Vídeo, 35'10'' Vídeo realizado a partir de originais de filmes de 8mm, editados em Mini-DV Vídeo DVD-Pal, Cor, Audio PCM Stereo Texto – Narrador: António Manuel Machado Maia Argumento de Manuel Santos Maia Captação Original (8mm): António Manuel Machado Maia Pós-produção de imagem: José Roseira Concepção sonora: Manuel Santos Maia Mistura: Pedro Lima Engenheiro de Som: Pedro Lima Edição Vídeo: Manuel Santos Maia e José Roseira Em alheava _ filme, Manuel Santos Maia dá continuidade ao projecto alheava que tem vindo a desenvolver desde 1999, dando conta da identidade luso-africana e das especificidades próprias de um processo histórico de separação e independência que se tem mantido na penumbra, sobretudo no que se refere aos sujeitos que viveram essa experiência e, que o autor procura resgatar e participar, através da recriação de múltiplas narrativas. Alheava _ filme, assume o paralelismo entre a vida política e militar e a vida privada. Com um enfoque predominante sobre o palco de guerra revela o facto de militares portugueses que foram combater para África estavam alheados da vida nas colónias e de os colonos se encontrarem igualmente alheados das movimentações militares e políticas. Realizado a partir de excertos de filmes de 8mm registados pelo pai na província de Nampula, alheava _ filme, contém também a história da família em Moçambique e a caracterização da região de Nampula. O som e a imagem deste trabalho parecem corresponder, reunidos num conjunto único, provocando um resultado que se assemelha a um documentário, mas é também possível percepcionar que são duas fontes distintas, divergentes no tempo, que permite representar o desfasamento que se verifica no processo de rememoração, rompendo com a linearidade narrativa. Trabalhando a partir de memórias pessoais, familiares e colectivas; Manuel Santos Maia entende a memória enquanto algo que se molda e se ajusta subtilmente ao que interessa referir, ao que pretendemos abordar, aprofundar, dizer, contar, etc. evidenciando que no processo de rememoração, há selectividade que determina a reconstrução da realidade, a reconstrução de um filme mental que no seu processo se aproxima de um "remake" da vida real. O grau de suspeição relativamente ao rememorador, aumenta se atendermos ao facto de que guardamos uma determinada informação e depois acrescentamos detalhes, construindo imagens positivas ou negativas. Pelo exposto a desconfiança relativamente à memória, ao processo de rememoração instala-se, mesmo sabendo que uma parte da nossa memória, a que está mais próxima de nós no tempo, é confiável. Como o investigador Alcino Silva refere, «A memória está ligada a uma utilidade, a uma potencialidade. Penso que o mundo é muito menos interessante do que a forma como o vemos. São os cérebros criativos que vêem o mundo com outras "nuances" e as partilham com os demais. O mundo tem a sua aspereza e precisamos desse processo criativo para torná-lo mais ameno. Se [você] muda o seu comportamento diante da realidade, consegue de alguma forma alterá-lo aos seus olhos, e isso exige uma grande dose de plasticidade, maleabilidade. Essa é uma das funções mais pujantes da nossa memória. Aprendemos como as coisas funcionam e gravamos os pontos em que falhamos, para fazer melhor da próxima vez. Não memorizamos tudo o que aconteceu exactamente como aconteceu. Por vezes, saber com precisão aquilo que realmente aconteceu não nos ajuda em grande coisa.» Cristina Alves